Uma nova pesquisa da Universidade
da Austrália Ocidental descobriu que a planta Mimosa pudica, conhecida
em português como dormideira, não-me-toques ou dorme-dorme, é capaz de aprender
e se lembrar tão bem quanto animais fazem – tudo isso sem um cérebro.
Enquanto pode soar como ficção, a
autora sênior do estudo, Dra. Monica Gagliano, e seus colegas Michael Renton e
Dr. Marcial Depczynski da Universidade da Austrália Ocidental e Stefano Mancuso
da Universidade de Florença (Itália) têm provas sólidas para apoiar suas
teorias.
Usando a mesma estrutura
experimental normalmente aplicada para testar respostas comportamentais
aprendidas em animais, os cientistas projetaram seus experimentos como se a
dorme-dorme fosse de fato um animal.
Eles treinaram as memórias de
curto e longo prazo das plantas em ambos ambientes de alta e baixa luminosidade
ao derramar água sobre elas várias vezes usando um aparelho personalizado. A
dorme-dorme dobra suas folhas em resposta à queda.
O objetivo era descobrir se as
plantas poderiam aprender a ignorar adaptativamente tais estímulos, um processo
conhecido como habituação.
Primeiro, as plantas que foram
submetidas a uma única gota de água rapidamente fecharam as suas folhas,
repetindo o gesto quando o experimento foi feito novamente oito horas depois –
elas claramente ainda consideravam a experiência ameaçadora.
Um grande grupo de plantas
recebeu, em seguida, uma série de 60 quedas consecutivas com poucos segundos de
intervalo, repetida sete vezes dentro de um único dia. Estas plantas se
habituaram rapidamente, mantendo suas folhas abertas após as primeiras 4 a 6
gotas e, no final do dia, sequer fecharam suas folhas. Para garantir que tudo
isso não era simplesmente um caso de “fadiga”, um tipo diferente de choque foi
administrado, e as plantas fecharam suas folhas conforme o esperado.
Os pesquisadores eficazmente
mostraram como as plantas pararam de fechar suas folhas quando souberam que a
perturbação repetida não tinha nenhuma consequência danosa real. Elas foram
capazes de adquirir o comportamento aprendido em questão de segundos e, como
nos animais, a aprendizagem foi mais rápida em ambiente menos favoráveis (ou
seja, com pouca luz).
Mais notavelmente, as plantas
foram capazes de se lembrar do que tinham aprendido por várias semanas, mesmo
depois de as condições ambientais mudarem. Elas não só se lembraram que o
estímulo era inofensivo, como também abriram as suas folhas de forma mais
ampla, mostrando que haviam se adaptado ao que tinham aprendido no seu novo
ambiente de baixa luz. No geral, todos os grupos testados apresentaram
respostas mais pronunciadas e consistentes do que antes, o que demonstra que
ainda se lembravam do que foram ensinadas quatro semanas antes.
Essa descoberta vem não muito
tempo depois da Dra. Gagliano publicar um artigo sobre o poder das plantas de
“falarem” usando som. Além disso, outra pesquisa já havia revelado que as
plantas possuem a capacidade de contar – a Arabidopsis thaliana, por
exemplo, depende
de matemática para sobreviver, adaptando suas reservas de amido
fotossintético conforme a variação do tempo sem luz e o conteúdo disponível de
amido, para durem quase precisamente até o amanhecer.
Ou seja, as plantas podem não ter
cérebro e tecidos neurais, mas possuem uma sofisticada rede de sinalização à
base de cálcio nas suas células, semelhante a processos de memória dos animais.
Os pesquisadores admitem que
ainda não entendem a base biológica para esse mecanismo de aprendizado das
plantas, no entanto, o seu conjunto de experimentos tem grandes implicações –
principalmente, muda radicalmente a fronteira entre plantas e animais,
incluindo a nossa definição de aprendizagem (e, portanto, memória) como uma
propriedade especial de organismos com funções de um sistema nervoso. [ScienceAlert, Economist]
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